Quintais do Xingu

Nomes Araweté

Assim que o Infâncias pisou em terras Araweté, às margens do rio Xingu, encontrou inúmeras surpresas. A primeira delas veio por meio das crianças. Na aldeia do cacique Kamarati, meninos e meninas nos deram de presente nomes Araweté. Deixamos, então, nossas origens de lado para respondê-los apenas pelos nomes que recebemos.

Mais adiante, aprendemos com os adultos que aqueles nomes não poderiam ser usados porque outras pessoas que viviam em aldeias vizinhas já se chamavam assim. E os mais velhos sussurraram sorrindo: “Brincadeiras de crianças”.

Sim, brincadeiras que nos fizeram entender que para eles o nome de cada pessoa é único, não podendo nunca se repetir durante a vida Araweté. Cada criança que nasce só pode receber o nome de uma pessoa que já morreu ou de um inimigo ou de uma divindade Araweté, como explica o livro “Araweté – O Povo do Ipixuna”, do antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, que estudou profundamente esse povo.

Se o bebê for menina, entre os 7 e 11 anos será chamada de kãñî na’i oho, que significa mulher-criança. A partir dos 12 anos elas já podem se casar. Mais tarde, quando maduras, tornam-se kãñî-moko ou mulheres-grandes. Para um Araweté, ser adulto é ter filhos. E, se um casal tem seu primogênito, os pais abandonam seus nomes de infância, que não podem mais ser pronunciados, para ter o mesmo nome do filho. Se a criança tem o nome de Ada, por exemplo, o pai passa a se chamar Ada-no e a mãe, Ada-hi.

Mas, e quanto aos nomes que recebemos? Em respeito aos Araweté, não cabe aqui mencioná-los, mas posso garantir que todos eles são nomes de crianças. Nada mais apropriado para um grupo que carrega em sua origem e em seu fim a palavra infâncias.

Texto: Marlene Peret

Fotos: Samuel Macedo

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